Chego em casa e largo as chaves em um lugar qualquer onde provavelmente vou demorar para encontrar no dia seguinte. A voz dele ainda ecoando na minha cabeça como um despertador irritante. Ele não mediu esforços para deixar claro que não me quer mais por perto. Não consigo evitar me sentir uma tola por ter insistido tanto nesse romance fútil e sem sentido.
O que eu signifiquei pra ele? Ele não soube me responder ou talvez escolheu não responder porque falar em voz alta traria a tona tudo o que vivemos. E ele não quer pensar no passado porque o futuro é mais interessante: tem cabelo longo e 1,60m.
Meu estômago revira só de lembrar o jeito indiferente que ele me olhou essa noite. Brilho apagado, desinteresse. É muito esquisito quando alguém põe um fim na sua história. Uma história que você escreveu com todo o cuidado e amor do mundo. E aí chega o dia em que o outro vem e põe um ponto final, e no parágrafo seguinte começa uma nova história com alguém. Sem você. Dói e não é pouco. Dá vontade de gritar, qualquer coisa estressa, qualquer coisa é motivo para reclamar.
Minha vida não vai entrar nos trilhos novamente. Não consigo sem ele. Não quero ver ele com ela, como vou aguentar isso? É demais pra mim. Ela nem sabe dos trezentos tipos de alergia que ele tem. Não sabe que ele não suporta que falem alto e também não sabe que eu ainda o amo. Se soubesse o quanto dele ainda existe aqui dentro ela nunca chegaria perto. Ele está totalmente radioativo. Espero que ela tenha cuidado.
Não vai ser tão fácil pra ele também, não. Eu sei disso. Ou será que estou tentando me auto consolar? Sempre tive uma habilidade estranha para sair de situações difíceis sem muitos arranhões, mas dessa vez sinto que bati com o carro e que estou presa no meio das ferragens e qualquer movimento machuca.
Não vou me mover. Não enquanto ele não voltar. Não me importo, podem me dar falta, nota baixa, liguem para os meus pais. Me deixem quieta até que meu cabelo cresça ou até que ele perceba que eu sumi.